Todo o iniciante na astronomia tem uma grande vontade de comprar logo um instrumento "potente e barato". Em astronomia isso não existe, "potência" deve ser traduzido por "qualidade" e "qualidade" deve ser traduzido por "preço adequado" - "barato" não é preço adequado a um instrumento astronômico, embora possamos montar um telescópio com peças feitas artesanalmente a um preço razoável, geralmente o instrumento barato é de baixa qualidade e não serve para astronomia.
Não basta um telescópio na mão e algumas constelações na cabeça para começar a fazer astronomia, é necessário um conhecimento básico do céu para saber para onde apontar o telescópio. Por isso o iniciante deve desistir por um tempo do telescópio e pensar em iniciar na exploração do céu apenas com seus olhos (ou no máximo com um bom binóculo). Pode parecer pouco mas com os olhos nus podemos observar muitas coisas no céu, coisas que nem imaginávamos possíveis de ver sem um instrumento óptico. Claro que é necessário estar num local escuro e, infelizmente, as cidades não oferecem este espaço pois são muito iluminadas. Mas indo para um sítio, montanha, praia ou campo podemos apenas com os olhos observar nebulosas, galáxias, milhares de estrelas, aglomerados abertos e globulares de estrelas, planetas (este mesmo dentro de cidade é possível ver), eventualmente cometas e meteoros. Mas o principal nesta iniciação é ir conhecendo o céu como alguém que está conhecendo um mapa de uma cidade nova. Conhecer as ruas, praças, avenidas e principais pontos turísticos de uma cidade é muito parecido com conhecer o céu. As constelações são como as avenidas, são grandes, largas e apresentam alguma beleza em si. Mas elas também são o caminho para penetrarmos nos bairros do céu, conhecermos as ruas, becos, e pontos onde existem coisas interessantes. As constelações e suas estrelas são as referências que usamos para encontrar os objetos que, a primeira vista, estão escondidos. Por isso os nossos olhos nus são essenciais para fazer este reconhecimento das constelações e suas estrelas principais. Só a prática com mapas e softwares é que vai desenvolver esta habilidade.
Mas antes de partir para a compra de um instrumento astronômico (binóculo, luneta ou telescópio) o iniciante deve se perguntar:
- Já tenho um conhecimento razoável do céu para saber para onde apontar o telescópio?
- Sei identificar os 5 planetas visíveis a olho nu sem auxílio de mapa?
- Conheço as principais constelações e suas estrelas principais?
- Sei localizar as principais nebulosas, aglomerados globulares, aglomerados abertos e galáxias (ou antes, sei o que significa cada uma destas classificações) também sem auxílio de mapa?
Se a resposta foi "não" para todas as perguntas é porque você está realmente iniciando na astronomia e o mais aconselhável seria, antes de adquirir um instrumento, procurar alcançar este conhecimento (que é praticamente gratuito) observando o céu a olho nu mesmo. Por incrível que pareça muitos dos objetos mencionados acima podem ser vistos a olho nu de um local escuro (longe das luzes de cidade). Existem muitos softwares planetários gratuitos na internet que podem auxiliar grandemente neste reconhecimento do céu e mesmo posteriormente quando você estiver melhor equipado.
Se respondeu "sim" para algumas perguntas acima, você poderia adquirir um binóculo de boa marca (como já disse, os baratos simplesmente NÃO SERVEM para astronomia). Um bom modelo de binóculo é algo entre 7x50 e 10x50. O primeiro número (7x e 10x) é o aumento do binóculo e o segundo número (50) é o diâmetro da objetiva em milímetros.
Mesmo com todas respostas negativas o conselho para iniciante é a aquisição de um bom binóculo, não mais que isso. Um bom binóculo bem cuidado dura para toda a vida e sempre será útil, mesmo quando você tivere um "mini-Hubble" no quintal.
Por fim, se você respondeu "sim" a todas as perguntas já estarás um passo adiante do iniciante e poderá pensar numa boa luneta ou telescópio (suponho que você já tenha comprado um binóculo que, como disse, sempre será útil).
Por que tudo isso? Porque se comprar um telescópio logo de início ele com certeza ficará "encostado" num canto até que tenha o conhecimento necessário para utilizá-lo e isso seria um investimento caro e imobilizado.
Voltando às perguntas básicas, primeira pergunta é genérica e terás a resposta quando tiver as respostas para as outras 3. Eu a coloquei aqui apenas para que o iniciante sinta o "drama" que é ter um telescópio. Sem conhecimento do céu para onde vamos apontá-lo? Para a Lua é o mais óbvio e qualquer um saberá fazê-lo mas isso é apenas um objeto celeste enquanto temos milhares deles nos aguardando. Então o drama do iniciante é: onde estão os outros objetos celestes que podemos observar com um telescópio, ou antes, com um binóculo ou mesmo a olho nu? Um telescópio tem um campo de visão de frações de grau, ou seja, se você não apontá-lo com boa aproximação para as coordenadas do objeto não verás o objeto, pode até "descobrir" objetos interessantes mas não saberá o que está observando afinal. Por isso eu diria que o fundamento básico é saber para onde estamos olhando e isso começa sabendo a orientação dos pontos cardeais (norte, sul, etc...). Depois necessitamos de um mapa básico com as principais constelações. Partindo de uma constelação conhecida (ex. o Cruzeiro do Sul) podemos começar a viajar para as constelações próximas e aos poucos vamos descobrindo o céu. Conhecendo as constelações e suas principais estrelas podemos usá-las como guia para encontrar os objetos mais tênues como aglomerados, nebulosas e galáxias. Na verdade, se não tiver um telescópio computadorizado que encontra tudo sozinho, esta é a única maneira de encotrar tais objetos celestes, pulando de estrela em estrela.